
Enquanto os processos de restauro não saem do papel prédios tombados estão depredados e quase caindo os pedaços
Mais de um século de história do prédio onde funcionou a escola Jesus, Maria e José, no Centro, está condenado a virar poeira se a marcha da burocracia para finalizar projeto de restauração e captação recursos não acelerar seu andamento. Quem passa pelo local, na Rua Coronel Ferraz com Avenida Santos Dumont, toma um susto. "Não entendo como um prédio desses está desse jeito", lamenta a professora de História, Maria Jerusa Pontes Viana. Ela tem razão. O imóvel encontra-se em precárias condições de conservação. Telhado no chão ou comprometido, janelas quebradas e parte das paredes escoradas por madeira.
O prédio faz parte dos imóveis tombados pela Prefeitura nos últimos anos e que está na fila da reforma e requalificação. Ali, o plano da gestão passada era implantar a Casa da Fotografia. Na relação de bens configurados como patrimônio histórico da cidade estão também: Casa do Barão de Camocim, Mercado da Aerolândia e o Farol do Mucuripe. Todos aguardam restauro.
O coordenador de Patrimônio Histórico e Cultural da Secretaria de Cultura de Fortaleza (Secultfor), João Jorge Melo, afirma que todos os processos ainda estão em andamento e ressalta o trabalho do Conselho Municipal de Patrimônio Histórico e Cultura no empenho para que esses bens sejam recuperados.
A titular da Secretaria de Urbanismo e Meio Ambiente da cidade, Águeda Muniz, reafirma o compromisso de encaminhar à Câmara Municipal todas as leis que regulamentam as chamadas Zonas Especiais de Preservação do Patrimônio Paisagístico, Histórico, Cultural e Arqueológico (ZEPH), definidas dentro do Plano Diretor de Fortaleza, aprovado desde 2009, ainda no primeiro semestre deste ano.
O objetivo das ZEPHs é preservar, valorizar, monitorar e proteger o patrimônio de seis áreas consideradas relevantes histórica e culturalmente: Centro, Parangaba, Alagadiço Novo/José de Alencar, Benfica, Porangabuçu e Praia de Iracema. Nessas faixas, foram identificados 1.186 edificações de interesse histórico e cultural na cidade.
Enquanto os processos de restauros não saem do papel e as ZEPHs não são regulamentadas, os prédios históricos sofrem com a ação do tempo e depredações.
Na avaliação do jornalista e historiador Miguel Ângelo de Azevedo (Nirez), o descaso com as antigas construções em Fortaleza já se transformou numa tradição, ou seja, em Fortaleza, a tradição é não ter tradição. "Fiz parte do tombamento do prédio da Escola Jesus Maria José e após isso só piorou a situação. De nada serve tombar-se um prédio e deixá-lo abandonado. Estou hoje desencantado com a preservação de monumentos históricos em nossa cidade", diz.
Para a arquiteta e urbanista Mariana Rocha, esse abandono demonstra a indiferença como é visto o patrimônio histórico da cidade. A memória de uma cidade, diz a arquiteta, não é feita só de pessoas, personagens e cenas. Lugares como praças, prédios, casas e monumentos também são carregados de lembranças. Já na visão do historiador Régis Lopes, faltam vontade política e, por isso, ação concreta quando o assunto é patrimônio histórico e cultura de Fortaleza.
Confira vídeo com passeio por alguns dos patrimônios:
OPINIÃO DO ESPECIALISTA
Memória da cidade é negligenciadaJá é um grande lugar-comum afirmar que o Brasil é uma país sem memória. Ouso dizer também que nossa cidade, Fortaleza, é uma cidade sem memória. Basta caminhar por qualquer bairro da Capital para detectar isso. Mas, tomemos como exemplo o Centro da cidade, nosso bairro histórico por excelência: fácil é constatar que edifícios de relevância arquitetônica e histórica jazem; em sua grande maioria, num estado deplorável. A antiga Escola Jesus, Maria e José, exemplo da arquitetura eclética tão em voga em fins do século XIX e início do século XX, aguarda até hoje providências de restauro, cujo processo anda a passos lentos. Enquanto isso, o teto do imóvel caiu e as paredes estão ancoradas por estacas. O prédio é apenas um exemplo do descaso.
A discussão no Brasil em torno do Patrimônio Histórico-Cultural é relativamente recente, pois data da década de 30. Naquela altura, os alvos escolhidos pelas políticas públicas consistiam notadamente nos prédios do período colonial brasileiro, sobretudo os casarios de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Salvador. Com o passar do tempo essa noção foi sendo ampliada, pois constatou-se que por se tratar de país jovem, o Brasil deveria preservar também construções mais recentes. Surgiu também a noção de patrimônio imaterial, algo que agrega valor a um determinado edifício que muitas vezes não contém relevância arquitetônica em si, porém é ligado de alguma forma a algum evento ou personalidade histórica relevante. Voltando à nossa realidade, a cidade precisa ser mais respeitada e preservada, pois nossas cultura e memória têm uma importância relevante na construção da cidadania. Mas, para além de tudo isso, não basta só preservar, restaurar ou manter: é preciso dar uso a esses bens, mantendo assim, um diálogo necessário e constante entre presente e passado.
Eustáquio Alvarenga Júnior
Professor e historiador
LÊDA GONÇALVESREPÓRTER
While the restoration processes do not leave the paper protected buildings are vandalized and almost falling pieces
More than a century of history of the building where the school functioned Jesus, Mary and Joseph in the center, is doomed to turn to dust if the march of bureaucracy to finish restoration project funding and resources not accelerate its progress. Who passes by, the Ferraz Street with Colonel Santos Dumont Avenue, takes a scare. "I do not understand is how such a building like this," laments Professor of History, Mary Bridges Jerusa Viana. She's right. The property is in poor storage conditions. Roof down or compromised, broken windows and part of the walls buttressed by wood.
The building is part of the buildings toppled by the City in recent years and is in line for renovation and redevelopment. Ali, the management plan was to deploy the last House of Photography. In respect of goods configured as historical heritage of the city are also: House of Baron Camocim, Market Aerolândia and Mucuripe Lighthouse. All await restoration.
The coordinator of Historical and Cultural Heritage of the Ministry of Culture of Fortaleza (Secultfor), João Jorge Melo says that all processes are still ongoing and highlights the work of the City Council Heritage and Culture in the commitment to such goods are recovered .
The head of the Secretariat of Urban Development and Environment of the city, Águeda Muniz, reaffirms the commitment to forward to the City Council all laws regulating called Special Areas of Conservation Landscape Heritage, History, Culture and Archaeology (Zeph), defined within the Master Plan for Fortaleza, approved since 2009 in the first half of this year.
The goal of ZEPHs is to preserve, enhance, monitor and protect the assets of six areas considered historically and culturally relevant: Center, Parangaba, New Alagadiço / José de Alencar, Benfica, Porangabuçu and Iracema Beach. These bands were identified 1,186 buildings of historical interest and cultural city.
While the processes of restoration does not leave the paper and ZEPHs are not regulated, the historical buildings suffer from the ravages of time and vandalism.
In evaluating the journalist and historian Michael Angelo de Azevedo (Nirez), the neglect of the old buildings in Fortaleza has already become a tradition, ie, in Fortaleza, tradition is not tradition. "I was part of the building toppling of Jesus Mary Joseph School and after that only worsened the situation. Topple There is no point to a building and leave it abandoned. Now I'm disenchanted with the preservation of historical monuments in our city," he says.
For the architect and urbanist Mariana Rocha, this abandonment demonstrates indifference is seen as the historical heritage of the city. The memory of a city, says architect is not made up only of people, characters and scenes. Places such as parks, buildings, houses and monuments are also loaded with memories. In the view of historian Régis Lopes, lacking political will and therefore concrete action when it comes to heritage and culture of Fortaleza.
Check out video tour of some of the assets:
EXPERT VIEW
Memory of the city is neglected
Already a great commonplace to say that Brazil is a country without memory. I dare say also that our city, Fortaleza, is a city without memory. Just walk through any neighborhood in the Capital to detect it. But take the example of the city center, our historic neighborhood par excellence: it is easy to see that buildings of architectural and historical significance lie; mostly in a deplorable state. The Old School Jesus, Mary and Joseph, as example of eclectic architecture in vogue in the late nineteenth and early twentieth centuries, awaiting restoration measures today, which process goes at a slow pace. Meanwhile, the roof of the building collapsed and the walls are anchored by stakes. The building is just one example of neglect.
The discussion in Brazil about the Historical-Cultural relatively recently, in the 30s. At that time, the targets chosen by public policy consisted mainly in the Brazilian colonial period buildings, especially the houses of Minas Gerais, Rio de Janeiro and Salvador. Over time this concept was expanded because it was found that for being young country, Brazil should also preserve more recent constructions. Came the notion of intangible heritage, something that adds value to a particular building that often has no architectural significance in itself, but is somehow tied to some historical event or personality relevant. Going back to our reality, the city needs to be more respected and preserved, for our culture and memory have a great importance in the construction of citizenship. But beyond all that, it is not enough to preserve, restore or maintain: it is necessary to use these assets, thereby maintaining a constant and necessary dialogue between past and present.
Eustace Alvarenga Jr.
Teacher and historian
Leda GONÇALVES
REPORTER





No entanto, a liberação da verba foi antecipada para dezembro, provocando um desfalque na atual administração. Membros da gestão socialista estudarão medidas a serem adotadas sobre o caso. Ainda segundo os dados, Fortaleza teria sido a única cidade do País a ter essa antecipação.