A promessa era de que a escritura das casas, no Pirambu e Cristo Redentor, estaria nas mãos dos moradores em um período curto de tempo. No entanto, mais de um ano passou desde a entrega realizada pela Prefeitura de Fortaleza das primeiras 20 documentações. Até agora, somente alguns dos 44.492 habitantes dos dois bairros receberam a documentação de regularização fundiária.
Pirambu e Cristo Redentor foram erguidos no fim da década de 1950 em terreno de marinha. “Se a gente não receber (a escritura) até outubro, a gente não vai votar”, ameaça Zilmar Gomes Ferreira, 74 anos, moradora de uma das primeiras ruas construídas no Cristo Redentor, a rua 1. A justificativa da aposentada de não votar é “porque eles (políticos) só se preocupam com a gente na hora da eleição. Passa a fase e eles não colocam nem os pés aqui. A Prefeitura promete desde a primeira gestão”.
Zilmar e o esposo Afonso Ribeiro, 85, estão na luta pela conquista da documentação do imóvel há décadas. O casal construiu a moradia da família em terreno de marinha há cerca de 40 anos. “Essa casa foi a gente que construiu. Vinha aqui todo fim de semana, mais outros pedreiros e serventes. Até hoje a gente tem medo de perder a moradia”, conta Afonso.
A mesma sensação de que a perda da casa pode acontecer a qualquer momento é compartilhada por Lindalva Santos, 61, e José Ananias Santos, 69. O casal de aposentados divide a habitação de três quartos com os dois netos, um filho, uma nora e a insegurança da posse do lar. “Isso revolta a gente. Os políticos vêm e prometem e, depois, não fazem nada”, reclama Lindalva. “A gente não entende por que só deram a casa para algumas famílias e outras, não”, questiona Ananias.
O sentimento já foi compartilhado pela família do motoboy Francisco Osias dos Santos Júnior, 21. Depois de décadas de espera, a documentação da casa “finalmente chegou”. “A gente sente alívio. Agora a casa é nossa também no papel, não tem quem tome mais”, diz. O jovem, que mora com os pais e os avós, lembra que a luta pela conquista foi difícil, mas recompensou.
O POVO entrou em contato com a Fundação de Desenvolvimento Habitacional de Fortaleza (Habitafor). A assessoria de imprensa do órgão respondeu que a questão estava sendo tratada pelo Projeto Vila do Mar, cuja assessoria informou que o objetivo do projeto é realizar a regularização fundiária de 7.010 famílias até dezembro de 2012. Até agora, foram contempladas 264.
A assessoria não respondeu a questionamentos sobre a quantidade de famílias inscritas, o motivo da demora para o cadastro das outras famílias e a previsão para que toda a comunidade seja contemplada. A justificativa é que a assessoria não havia conseguido contatar, durante toda a tarde e noite de ontem, os assessorados para responder às perguntas feitas.
ENTENDA A NOTÍCIA
Os bairros foram construídos em um terreno de marinha, ocupado por pescadores. Na década de 1950, o local foi povoado de forma mais intensa.O Pirambu possui 17.775 habitantes e o Cristo Redentor, 26.717.
Saiba mais
O presidente da Associação Comunitária de Ajuda Mútua do Pirambu, Franscisco Ismar Lopes Dantas, informou que foram poucas as famílias contempladas com a regularização fundiária. Francisco Ismar afirmou que a associação não possui o número de famílias que aguardam a regularização.

Nenhum comentário:
Postar um comentário